LIVEABOARD: OS CUIDADOS ESPECIAIS NECESSÁRIOS EM VIAGENS DE BARCO

Muito comum entre mergulhadores e surfistas, as viagens em barcos do tipo “liveaboard” permitem o acesso a áreas remotas, onde não existe suporte ou acesso por terra e leva o aventureiro para regiões inóspitas, com pouca gente dividindo um pico de onda ou um ponto de mergulho.

Embora nos traga muitas vantagens, este tipo de viagem traz também um primeiro aspecto muito complicado, o isolamento e, com isto, falta de acesso a socorro e atendimento médico. Por melhor equipadas que sejam, estas embarcações pequenas (raramente ultrapassam 100 pés) não têm consigo um médico à bordo ou o equipamento necessário para um socorro propício, caso necessário. Estes barcos podem ter desfibriladores, oxigênio, kit de primeiros socorros, mas nunca terão uma ampla gama de antibióticos (até porque os mesmos vencem) e outros remédios, muitos considerados de uso pessoal.

A primeira questão que você precisaria se perguntar é se está apto a ficar isolado da civilização e se tem alguma condição médica que poderia necessitar de atendimento emergencial. Por exemplo, uma pessoa com um cálculo renal que teve sintomas, mas não foi expelido, deveria considerar o risco do mesmo resolver participar da viagem, causando cólicas e dores violentas.

Como sempre defendo, um checkup médico e odontológico minucioso é fundamental e qualquer condição precisa ser pesada baseada na viagem.

Muitos destes barcos tem uma série de normas e termos de isenção de responsabilidade, mas certa vez, dividi uma cabine, em um barco de mergulho, com um senhor que usava CPAP (equipamento de pressão positiva na respiração) para apneia do sono. Não dormi por algumas noites, achando que tinha o Dart Vader como companheiro de cabine, mas falando sério, tentei entender a condição médica desta pessoa e se ela deveria estar nesta viagem.

Altitude: como minimizar os efeitos na prática de esportes e viagens em alta montanha?

Um diabético, mesmo que liberado por seu médico, precisa questionar, caso use insulina, se existe forma de acondicionar sua medicação. E por aí vai.

Outra pergunta fundamental, em caso de acidente, qual o tempo de evacuação até o socorro adequado? Por exemplo, em uma expedição de mergulho ao arquipélago de Cocos, na Costa Rica, o único acesso é de barco, o que leva mais de 40 horas. Não existe helicóptero com autonomia para tal resgate. Há alguns anos, uma dupla de mergulhadores desapareceu por aí, e lá ficou. Nada contra o local, mas é preciso entender o risco.

Antes de embarcar, converse com seu médico do esporte, explique para onde está indo, cheque vacinações, pois já vi passageiro nem conseguir sair do Brasil por não ter tomado vacina obrigatória para entrar em determinado país. E solicite orientação sobre sua “malinha de remédios” para este tipo de viagem.

Não se esqueça, certas medicações de uso estritamente pessoal, não são sequer consideradas itens de primeiros socorros. Uma vez, um amigo ficou sem equipamento para controle da sua pressão arterial e ninguém tinha esta medicação para ajudá-lo. Obviamente, a distância da civilização impede o acesso a tal remédio. Portanto, planejar é necessário!

Finalizando, cada uma destas expedições tem suas particularidades, cuidados especiais (algumas vão para áreas com malária) e duração particular. Você estará se divertindo muito, mas longe demais do conforto da sua casa e da civilização. É preciso considerar se está pronto e preparado para correr os riscos da viagem em questão e saber como minimizá-los!

Este texto foi escrito por: Dr. Gabriel Ganme